domingo, 19 de janeiro de 2014

PINTURA


 I
Aqui uma verdade
Que estes pincéis encharcados
Tentaram em vão colorir:
Quanto mais tinta em teu autorretrato
Menos precisa a imagem de ti

II
Você tentou aprisionar o tempo,
E ele bateu com mais força em sua face
Fingiu perfeição
E a feiura estampou em toda parte
Hora de estender-se de pé
Reunir pedaços e trapos
Fazer do esboço e do traço
A pintura cubista

Que você é

[Clarissa de Souza]

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Livres e submersos

Parece loucura
Este mergulho a 90 graus
Imergindo nas águas desconhecidas
De um oceano ignorado

Nem eu nem você
Tocaremos no fundo deste mar
Nem desejaremos saber
A quantos metros estamos da superfície

Não perguntaremos
Quanto de oxigênio ainda nos resta
Pois não há mais nada do mundo exterior
Que seja preciso respirar

Não violaremos o mar
Com relógios sujos de tempo
Não dissolveremos na água
O que a ela não pertence

Mergulharemos.

De mãos estendidas,
de olhos fechados,
Livres e submersos.
Infinitos.
Por onde o oceano deixar.

Clarissa França

domingo, 26 de maio de 2013

Silêncio


Moço,
enquanto você escutava
o pássaro selvagem
que habitava o meu peito
as ondas da praia batiam
- gentis
em meu calcanhar

Era onde eu queria estar,
apenas ali

Não sei há quanto tempo você partiu,
se eu adormeci e as ondas me levaram,
mas eu quero mergulhar no teu oceano pacífico
para não ter de escutar
o silêncio deste pequeno pássaro
que adormeceu.


Clarissa França

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

VIVER É BOM!



Deus meu, obrigada, obrigada e obrigada!

Obrigada pela brisa amiga,
Beijo divino em minha face
Como um anjo que suspirasse
A fazer brotar a paz no coração

Obrigada pelo besouro pequenino
Este singelo peregrino
Dos campos, das flores e dos ares
Que com graça encanta olhares
Por onde quer que ele passe

Obrigada pelo cão companheiro
Que sem medo de oferecer amizade
É a prova mais sublime de que a bondade
É a regra áurea da criação

Obrigada, obrigada e obrigada, Deus meu!

Pelas flores que enfeitam as varandas!
Pelas borboletas que dançam cirandas!
Pelos pés de bromélia e pelos pés de jasmim
Como é doce a fragrância
Neste adorável jardim!

Obrigada, Deus meu,
Pelos olhos que podem ver tanta beleza
Pelo nariz que distingue com sutileza
Os perfumes que vêm das rosas e do açafrão

Obrigada pelos ouvidos que ouvem
Os acordes da mais linda canção!
A canção da natureza
No palácio de Vossa Alteza,
A rainha Gratidão

E com a mais meiga simplicidade
Para que não falte jamais a humildade
Quero dizer-te, meu pai:
- Obrigada,
Pela vida que me deste
Pelo corpo, a minha veste
Mas sobretudo, pelo meu espírito imortal!

Clarissa F T de Souza

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

NO RALO DAS HORAS



É com as farpas desse tempo
fugaz
que você me traz
as marcas suadas
de sua tatuagem envelhecida

Esse corpo corroído
essa chaga invulgar
essa já bem conhecida
imagem especular

São as cicatrizes
de um corpo adulterado
empedernido, maculado
que teima em ficar de pé

São as sobras
da soma dos dias e das noites
do pulso,
         avulso
de todos os pulsos
que gaseificaram em tua veia
como um pulo na estalagem do tempo

É assim que você me traz
o desenho, o sinal
         a marca textual
estampada nas fibras de tua carne

Um esboço que desvanece
         dissipa, esmaece
escondido por entre a derme
de um corpo que já não mais te serve
e te abandona no pulso de agora

Maculado, empedernido
sugado no ralo das horas 



Clarissa F T de Souza

*****


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

NÃO COMPLICA NÃO, CLARISSA!



I - NA CASA DE VÓ
Minha vó já ensinava
que Deus gosta dos animais
Do cachorro, da lebre, do gato
Mas dos camelos,
jamais!

Pois um rico até que pode
No buraco da agulha passar
Mas quero ver o pobre camelo
No reino de Deus ele entrar!

II – NA ESCOLA
Me disseram na matemática
Que com dois pontos se faz uma reta
A professora com fé me disse:
- Vai, menina,
que tu acerta!

Mas eu peguei uma agulha
E passei a reta no orifício
Mirei o ponto e pensei:
Mas que tarefa difícil!

Do birô ela já disse:
“É hora de terminar!”
 Cruzei os pontos com destreza
Fiz movimento com sutileza
Dei um laço,
Mas que lindeza!
Bem na hora de acabar

Entreguei a tarefa toda contente
E aprendi dali pra frente
Que fazer uma reta
É costurar!

III – NA ESTRADA
Não queria ser assim tão complicada
Queria só chegar no meio da estrada
E ligar o GPS
- À direita tem lombada,
                Em seguida você desce
Pronto, chegou no destino final
Mas eu peguei a esquerda
E dei a volta no quarteirão
A moça disse 100 metros
E eu parei na contramão

IV – NO AMOR
Não é que acabou
Vê se você me entende
A chama agora é tão pequena
Que se assoprar, apaga
Se esperar,
                acende!


Clarissa F T de Souza

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Miles from Davis

O primeiro pedaço do bolo
e o último biscoito do pacote
(melhores prêmios que alguém pode ganhar)
vão para...

Sir M. Davis





Miles from Davis

Há quanto tempo
Você não usa aquele seu batom vermelho?
Há quanto tempo
Não escuta seus discos de jazz?
Em que Tipo de Azul você mergulhou seu medo?
Em qual Noite Tranquila você afogou seus pés?

Clarissa F T de Souza